Apresentação
Texto de Rodrigo Hipólito
Esta edição da Revista do Colóquio mostra-se tão extensa e variada quanto a anterior, o que se relaciona com a continuidade da publicação e com a abertura do doutorado em artes do PPGA-UFES. Esse segundo ponto, no entanto, não significa que a Colóquio tenderá a fechar-se para recepção de trabalhos apenas de alunos de pós-graduação com estabelecerá qualquer limitação mínima de títulos para pessoas autoras. Permanecemos com nossa política editorial voltada para a amplitude de vozes e a pesquisa livre, dentro e fora da universidade. Como pode ser verificado em nossas edições anteriores, priorizamos a publicação de uma variedade de trabalhos que exploram a relação entre arte, sociedade e pensamento contemporâneo, em organizações que revelam um diálogo interdisciplinar entre as pesquisas. Nesse sentido, nosso processo editorial prioriza a complexidade dos fenômenos culturais atuais.

Título da revista em preto, sobre fundo com recorte da imagem da obra de Chris Coutinho, “Névoa”. A imagem mostra uma ilustração de tronco de árvore com barco ao fundo. A ilustração é feita em camadas semi transparentes de papel manteiga e tecido voal, o que torna as cores e formas enevoadas.
A estética e a recepção social da arte pública constituem um eixo central nesta edição, com artigos que analisam monumentos e intervenções urbanas. Essas pesquisas questionam padrões hegemónicos de beleza e discutem a representação de identidades marginalizadas, assim como a conexão entre obra, território e memória coletiva, que surge como questão recorrente. A função educativa da arte também recebe destaque. Propostas inclusivas demonstram o potencial transformador da experiência sensorial e integram públicos com diferentes necessidades perceptivas. Outros estudos abordam a dimensão sonora e auditiva na arte contemporânea, quando a escuta aparece como ato político e estético. A voz humana surge como veículo de herança cultural e tensiona narrativas coloniais através de práticas experimentais. A linearidade do discurso confronta-se com estratégias não lineares de composição.
Como de costume, a Colóquio dedica atenção significativa aos processos criativos. Há investigações descrevem metodologias inovadoras na produção artística, refletem sobre o papel das restrições físicas e conceptuais, sobre a materialidade do gesto artístico e seu diálogo com noções de tempo e procedimento, ou sobre como pensamento complexo fundamenta análises sobre sistemas simbólicos abertos.
A curadoria de exposições emerge como campo de investigação privilegiado, no qual discutem-se narrativas curatoriais como construções de brasilidade, na articulação da tradição com a contemporaneidade.
A curadoria opera como mediadora entre obras, contextos e públicos. Nessa linha, questões decoloniais perpassam múltiplos trabalhos: cosmovisões indígenas como alternativas epistémicas; o tensionamento de lógicas ocidentais de conhecimento; a análise de representações queer e dissidentes como abordagem que desestabiliza imaginários heteronormativos. Assim, articula-se arte e resistência política.
A fotografia e as artes visuais aparecem como ferramentas de ressignificação. Desafia-se estigmas sociais ligados à saúde mental, propõe-se novos olhares sobre a neurodiversidade, a relação entre corpo, paisagem e matéria, que inspira reflexões sobre o desenho. A educação artística na escola básica recebe enfoque especial. Experiências pedagógicas vinculam cultura popular e currículo formal. O carnaval e suas manifestações tradicionais tornam-se dispositivos de aprendizagem, com práticas que promovem empatia e cooperação e reforçam o papel da arte na formação cidadã.
Esta edição confirma o compromisso da Colóquio com a pesquisa em arte, com resultados que evidenciam a vitalidade académica do Programa de Pós-Graduação em Artes da UFES, tanto em sua produção local quanto na abertura para o diálogo com pesquisas de outras instituições nacionais e estrangeiras. Esses resultados refletem sobre o presente e interrogam o passado, além de projetar futuros possíveis para as práticas artísticas. Entendemos que a pluralidade de vozes consolida a revista do Colóquio como um espaço de pensamento crítico sempre atualizado e efervescente. Com essa confiança, convidamos as pessoas leituras a passearem por nosso sumário e ir ao encontro da multiplicidade. Boa leitura!
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.