Texto de Rodrigo Hipólito
Caderno de Anotações, p. 022, 24.04.2012[1]
Sol VIGÍLIA cair na luz – Você não se encontra? Como funciona um olhar periférico? Em um rearranjo intelectivo? E se for pré-reflexão? É onde se enraíza o hábito [condição primeira para o entendimento do refugo: ordem].
Um mapa, ou, um mapear, pressupõe sobras. Sobras estão inclusas na concepção do mapa. Sobras não podem ser Sobras. O que foge ao recorte é o seu principal objeto de enfoque. Principal apenas, pois o recorte administra muita coisa.
<<Ano passado meu belo baú de recordações deu cupim, teve de ir embora junto da cama, a qual era muito apegado (…) Possuía ele as dimensões de meio metro de altura, um metro de comprimento e uns quarenta centímetros de largura, cada centímetro era recoberto por imagens de capas de discos antigas. Hoje só vejo capas de discos em exposições de arte, pois a maioria dos sebos é medonha, mas não que goste tanto de capas de disco de verdade, é mais uma atração pela estética de alguma época (…) Pesava bastante ele… foi embora com a cama pintada e pendurada no tempo [esdrúxula combine] (a cama não tem importância) e deixou uma péssima marca no chão, não dá pra encaixar nenhum móvel naquela vaga mudança de tom (…) insuportável ver tal diferença de tonalidade dos azulejos lá no canto, coloquei outra coisa encontrada na rua por cima.>>
Caderno de Anotações, p. 023, 26.04.2012.
Há um árido caminhar? há, há um árido caminhar. Sugestão nada absurda de passagem aos tropeções. Sugestões de xícaras despedaçadas? <<Toda a vez que quebrava um dos copos da casa, surgiam lágrimas-invisíveis-faiscantes>>. Passo-e-vou-se num Fôlego. Entre a escolha de ir e o direito de se deixar fazer, agarra-se a contradição. CONDIÇÃO DISTÓPICA – revertida em arranjo – mapa em sobreposição é transfiguração beleza. Atlas revoltado habita abaixo da TV. Existe (insiste) em ROTEIRO que é cumprido de placa em placa. São verdadeiras conexões hipertextuais em cores vivas e morrendo. Quando se arrebenta o céu-discurso e a arquitetura foge da estrada para uma limpeza de pontiagudas acabando em coberta rasa, sobrepõe-se (ali é o ressalto da colagem – isso só se resolve no olhar fotográfico).
Caderno de Anotações, p. 023, 27.04.2012.
<<Encontramos aqui uma situação inorgânica. Assim nos apareceu. Meio sua sem ar e bastante delicado TUDO SEM tocar o chão. Uma paisagem montanhosa com relevos de antenas opacas brancas leves como pedaços de isopor limpinho. inorgâni│co│cidade maciça espedaça-se destemperada.>> Para-brisa de carro antigo. IN-Su(l)a(r) in firme. Como fazer seu mapa? Um mapa um por um do império não pode passar com o império nem ser correspondência do império. Deve ser de outro para estar no primeiro. Exige no mínimo dois mundos transpassados e sem vontade de mútuo acesso. Um mundo-sem-mundo-sem-mundo. No recorte abre-se a conversa das placas sublinhas-se a condição dos planos de coerência [o que aparece e o que virá (ou jamais) à aparecer… │││ forma do instrumento de corda avariado e ressonante, aqui é oco, ali é maciço, e é porque há pedaços, há pedaços para poder achá-los e dispor de algo-aí.
[1] Texto produzido a partir da visita a exposição “Urbanorâmicas”, de Gabriel Borem (Galeria Homero Massena, 2012) e da leitura do texto “Geografia do Sensível”, de Melina Almada Sarnaglia, no catálogo da referente exposição.
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