Contos do Sapo
ou
“Acho que valeria um título no diálogo, ou mais de um título, um seguido do outro, ou um título para cada resposta, algo como: A obra fala >> Trabalho Disléxico >> Invenção de boa vontade…
Apontamento II, 22.10.2012, p. 118. [1]
“Cada vez mais estou pensando sobre a questão do interesse e da memória afetiva. Sem materialidade, tendemos a nos apegar ao mais material possível e depois de correr tanto, respiramos e invertemos a situação: quanto mais não vemos, mais a uma memória nos apegamos”. [Cf. Outubro – a isca]
Situação 1: sala expositiva em silêncio (aparentemente vazia)
Observa, evita grandes comentários, vai se retirando, para, retorna o olhar para o vazio e pergunta:
_ Estas marcas no chão têm a ver?
_ Não sei, o que você acha?
_ Acho que sim. Manchas do tempo? Nossa, quanta trinca…
Situação 2: momento pós-visita à outra exposição
_ Ontem eu fui à exposição, achei bem interessante aquela obra no canto esquerdo.
_ Qual? A com torres?
_ Eram torres? Achei que eram guindastes porque o título era “tintumeranos – marcas de um povo”.
_ É verdade, os tintumeranos. Mas eles não viviam em torres?
_ Não, eles trabalhavam em construções monumentais e foi um dos primeiros povos a usar algo similar a um guindaste. Lembro-me disso porque meu avô costumava ler um livro que acho que era sobre eles. Que falta sinto daquelas histórias; sempre gostei de ler estudos antropológicos por causa de meu avô e dos tintumeranos.
_ É, talvez eu tenha me confundido. Isso me lembra muito a teoria de Pierre Nora sobre locus memoriae, os lugares de memória. Para mim ainda são torres.
[1] Ou ainda “como visitar e tomar um café com exposições contemporâneas”
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