Texto de Fabiana Pedroni
(26 de janeiro de 2013, atualizado em 05 de setembro de 2023)
Mês passado defendi minha tese de doutorado, intitulada “Habitar, mediar, construir: o encantamento do mundo pelo livro ilustrado“. Eu falo de livros ilustrados, livros de artista, livros infantis, livros-objeto. Mas, para além disso, essa tese é sobre a nossa capacidade de manter o mundo encantado. Junto dessa defesa de que os livros ilustrados são capazes de realizar o encantamento do mundo, eu realizei um mergulho nos últimos dez anos de minhas pesquisas poéticas e teóricas. As coisas se misturam.
Não posso dizer que redigi essa tese apenas nos últimos cinco anos (ou cinco meses). Para que essas ideias existissem, precisei me dobrar sobre mim e me desdobrar tantas vezes, que não conseguiria organizar meus pensamentos sobre as produções poéticas de outras pessoas sem tentar organizar o que fiz. Só consegui terminar esse trabalho quando encontrei um jeito de não me desencantar do mundo enquanto escrevia, pesquisava e cumpria as rotinas acadêmicas. Não é exagero dizer que meu método de pesquisa se transformou em um auto-encantamento do mundo. Isso começou faz tanto tempo. Parece justo que voltar para essa postagem de dez anos atrás e depositar aqui o resultado de todo esse processo.
Em 2013, eu vigiava o mar, o cheiro da maresia, o sal na janela. Colhia os últimos registros antes de me mudar para o asfalto de São Paulo. Esse post possuía apenas o título “meu limite… meu fragmento…” e uma imagem com a data. Em 2023, uma nova escrita aparece. Após tantas casas, entendi que a colheita de memórias não se prende ao tempo, mas brinca com ele. Continuo a busca por imagens, tatos, cheiros, encantos. Encantar-se com o mundo é atitude de resistência e insistência para continuar pertencente ao mundo sensível. Nem sempre os caminhos tomados nos permitem criar passagens e explorar outras formas de conexão. Quando uma porta é fechada, abrimos outras, pulamos pela janela ou derrubamos tudo para reconstruir novas casas. Nesses atravessamentos insistentes é que esta publicação se torna necessária.
Uma casa foi erguida, com quintal e lama na entrada. Não me permitiram levar o leitor para um banho de chuva, então, aqui estamos. A tese de doutorado que escrevi está depositada no repositório da universidade, com as janelas fechadas e um convite limitado de encantamento com o mundo. Aqui, na exploração dos limites e fragmentos, a estrutura se torna poética, baseada na experiência de leitura e caminhar entre textos e imagens. Nessa versão encantada, as imagens não possuem legenda imediatamente coladas ao seu corpo figural. A legenda encontra-se de forma apresentativa antes da aparição da imagem, diluída na experiência de leitura, sem interromper o fluxo e fruição do trabalho. Suas margens extrapolam os limites da folha visual, encostam no mundo, e brincam com a imaginação leitora.
A pesquisa que desenvolvi na tese trabalha as possibilidades de o livro ilustrado mediar, através de sua materialidade e relação com a pessoa leitora, o processo de encantamento com o mundo. Como eu poderia investigar a experiência de habitar o livro como forma de reconexão ao mundo sensível ao transformar a tese em uma padronização hierarquizante do texto sobre a imagem, do conteúdo sobre a experiência? Para falar de encantamento com o mundo, a tese cria uma situação de encantamento com o livro. Por esse motivo, aqui você pode acessar uma tese encantada, em sua proposta original apresentada à banca de defesa, sob o título “Habitar, mediar, construir: o encantamento do mundo pelo livro ilustrado”.
Uma tese como resposta de resistência ao processo de desencantamento: Habitar, mediar, construir: o encantamento do mundo pelo livro ilustrado
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