[resenha] Giacometti, textos de Sartre

Capa. Livro Alberto Giacometti, textos de Jean-Paul Sartre

Capa do livro “Alberto Giacometti”, textos de Jean-Paul Sartre

Texto de Fabiana Pedroni.

SARTRE, Jean-Paul; EUVALDO Célia (org.). Alberto Giacometti: textos de Jean-Paul Sartre. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.

Este pequeno livro apresenta dois ensaios de Sartre escritos na ocasião de exposições de Giacometti em 1948 e 1950, publicados originalmente em periódicos. No primeiro ensaio, A busca do absoluto, Sartre nos apresenta um Giacometti exigente no esculpir, que busca novas construções não cadavéricas: “há três mil anos, só se esculpem cadáveres […] como fazer um homem com pedra sem petrificá-lo?” (p.17-18). Giacometti não estava em busca do eterno, muitas de suas obras, dizia ele, eram “feitas para durar só algumas horas” (p.22) e entre o erigir e destruir “encontrou o absoluto” na distância que nos separa do que vemos. “ele foi o primeiro a esculpir o homem tal qual o vemos” (p.29). Nas produções clássicas, o homem era esculpido segundo convenções de modo a apresentar-se como era, sem uma distância imaginária. Colocamo-nos diante do homem petrificado de 1,80 m de altura e há 10 metros de distância nos afastamos do bloco de pedra e do homem. Ambos um só – matéria e ser. “a eternidade da pedra é sinônimo de inércia; é um presente imobilizado para sempre” (p.21). Mas Giacometti nos coloca diante de um Ser que se mantém à distância “A seus personagens de gesso, confere uma distância absoluta, como o pintor aos habitantes da tela. Cria sua figura ‘a dez passos’, ‘a vinte passos’, e o que quer que você faça, ela ali permanece” (p.29). Não é possível nos aproximarmos delas e nossas impressões mudam a cada instante do deslocamento, mas sempre permanecem nesta distância absoluta. “é o bloco de gesso que está perto, é o personagem imaginário que está longe” (p.30). É a “aparência situada” que permite atingir o absoluto (p.33).

No segundo ensaio, As pinturas de Giacometti, Sartre busca nesta distância absoluta o entendimento das esculturas como pinturas, pois na tela representa-se uma distância material imaginária entre os personagens, que, mesmo nos aproximando, mantém uma distância de nós. A diversidade de uma distância real e imaginária gerou diferentes abordagens no campo tridimensional da escultura. De encontro ao clássicos, Giacometti buscou a distância imaginária, como uma pintura em que figuram multidões que estão juntas, mas sem se tocar, secretando seu próprio vazio (p.48). “E nesse vazio aparece subitamente um personagem. A escultura cria o vazio a partir do cheio.” (p.51). Na distância fixa, Giacometti trabalha a pintura no gesso, e,  Inversamente, posso dizer que ele vem como escultor à pintura, pois desejaria que tomássemos por um vazio verdadeiro o espaço imaginário que a moldura limita” (p.54). São os desejos de Giacometti pela atenção do espectador num olhar fronteiriço que construa e ponha limites às figuras (p.62), pois “para que um detalhe me pareça nítido e tranquilizador, é necessário e suficiente que eu não o torne explícito de minha atenção; o que inspira confiança é aquilo que observo pelo canto do olho.” (p.71).

São figuras que passam por uma ponte, atravessam um parque e mantém-se à distância, absolutas e vivas, em construção pelos cantos dos olhos de outros transeuntes..

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