Caderno de Anotações, 28.09.2012, p. 090.

Rodrigo Hipólito. A coisa apresentada expulsa o criador. Rotina de imagens falsas, 10.07.2012. Fotografia digital em baixa resolução. Céu azul claro com nuvens amareladas por detrás de uma tela quadriculada semitransparente, com poste de iluminação pública no canto espero inferior.
Uma sucessão de situações, desejadas e indesejadas, nulas. Uma conexão de crença foi dissipada sem que haja vontade de encontrar o ponto onde aconteceu.
Tudo acontece numa distância espacial estranha, pois meus olhos viraram uma cybershot. Os acontecimentos estão ali, atuais, estão comigo, mas a distância. Metempsicose sem deslocamento. Sou um sujeito que pensa num sujeito pensando e lhe designo com o nome de eu. Tudo parece realizado e fácil. Por isso, jogo meu olhar no que ainda não sucedeu e precisa de algum empenho para que seja levado a cabo. Apenas sou capaz do maquinal, o raciocínio soa pragmático, mesmo quando grosseiramente sentimental. Suplico por fazer um tanto de poesia, que é pensar de verdade. Mas, pronto o resultado da poesia, esta não se encontra mais ali. Sou jogado no vazio novamente.
Que circunstância absurda!
Um amontoado de corpos circulando num espaço que criei e, deslocado dos sentidos, procuro desanimadamente por fios que acessem o mundo real. Não parece possível escalar uma linha solta no ar. Toda a tentativa chama-se frustração.

Coletivo Monográfico. IC-PP. Deriva Estética- foto 262. Pormenores Possessivos, 01.05.2012. Fotografia digital em baixa resolução. Pôr do sol desfocado, entre nuvens, com prédio em obras no primeiro plano, à esquerda, e torre de metal ao centro.
Uma obra verdadeira, enquanto está viva. Barro por completo o retorno do autor para aquela casa. Procurará outro lugar para habitar. Caso insista em forçar a porta que agora lhe é negada, sofrerá de imediato o frio e a secura da sarjeta. Até mesmo esse chão lhe será negado, para que não haja o que se diz alternativa. Esse estado de angústia anestesiada foi o mais humano que atingi, pois torna o outro tão estranho que não posso dizê-lo em meu mundo. Retorna o homem para empilhar e derrubar pedras, sabendo ser sua recompensa o próprio ato de ir para frente.
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