Resenha da exposição “Zona de instabilidade” de Lais Myrhha, Caixa Cultural São Paulo, de 06 de julho a 25 de agosto de 2013.
Apontamento 3, p. 143, 11.08.2013, 16:07h
Pareceria coincidência se não estivéssemos todos submersos na zona instável que é o presente. Tão fluída que qualquer acaso é realmente digno de suspeita.
Entre as frases de tempo de incertezas de Motti dos Anjos, a composição em estratos de uma imagem medieval e uma Biblioteca para Dibutade,[1] eu pude encontrar aquela Zona de Instabilidade.[2] Aquele ínfimo presente que quando penso nele, já é passado.
Tudo parece apontar para a narrativa de minhas Chronologias Kairológicas[3]. [Apenas parece?] Sinto cada pensamento ser sugado por uma narrativa indecisa e instável. Subo no Pódio para ninguém ou me enterro nos rastros do vento? [4] Compro para mim um ímã e viro limalha de ferro para ignorar o tempo que corrói a superfície dos pensamentos? [5] Talvez não seja uma decisão que precise ser tomada, mas a consciência de que o instável existe por necessidade do conhecimento. É a exceção que entra em foco para nos informar que a coincidência não existe.
… descobertas ao acaso acontecem por curiosidade e interesse em comum fora do acaso…[6]
[1] Entre a memória e o esquecimento, a biblioteca deixa marcas físicas de sua existência. Estas marcas são capturadas em fotografia pela artista Lais Myrrha e postas diante de nós como resquícios, rastros tornados presentes. Dos contos de Dibutades, o título não poderia ser uma coincidência, não é? como mito criador das artes, a narrativa expõe a mulher que tenta amenizar a ausência do marido fazendo seu contorno na parede e que aos poucos aperfeiçoa sua imagem. A obra “Uma biblioteca para Dibutade” nos fala de modos de tornar presente aquilo que já nos ausenta.
[2] Título da exposição de Lais Myrrha, presente na Caixa Cultural São Paulo, de 06 de julho a 25 de agosto de 2013.
[3] Chronologia Kairológica, exposição de Fabiana Pedroni na Galeria Homero Massena, Vitória, ES, a partir de 22 de outubro de 2013. Em seu plural, trata-se de uma narrativa em que o tempo presente oscila indisciplinadamente entre Chronos e kairós.
[4] Folhas Secas. Fabiana Pedroni
[6] “Compensação dos Erros“, Lais Mirrha, 2007. Acesso em: 11.08.2013: 16:31. Trecho de projeto para a exposição Chronologia Kairológica: “Chronos, personificação do tempo, como um deus sem corpo que rodeava o Universo, conduzindo a rotação dos céus, aqui nos aparece como o tempo cronológico, da medida-marcação, regulador do nosso referencial, nosso hábito. [14:25:36hms] Há um tempo quantitativo sob o qual podemos evidenciar a existência de uma indeterminação contida no sujeito que pensa o tempo. Do instante em que iniciei minha ação de contagem do tempo ao instante em que escreveria as parcelas mais momentâneas, o presente tornou-se passado. A palavra “tempo” não diz praticamente nada da coisa que pretende exprimir (a aporia do tempo)”. 12. 2012
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