Estas produções são resultado de trabalhos de alunos e convidados na disciplina de História da Arte Contemporânea, ministrada por Fabiana Pedroni, na Universidade Federal do Espírito Santo no primeiro semestre de 2018 no curso de Artes Visuais e Artes Plásticas. A atividade consistia nas seguintes etapas:
- Escrita de um curto texto de temática livre por cada um dos participantes da atividade;
- Sorteio aleatório dos textos de modo anônimo entre os alunos e convidados através de um aplicativo;
- Cada participante trabalhou o texto anônimo que recebeu em uma produção poética, de formato livre;
- Debate e construção de uma crítica do processo.
Aqui temos disponíveis o texto livre de Angélica Pedroni e o vídeo produzido por Aline da Conceição, ambos carinhosamente cedidos para esta publicação ^^
MUNDO
Texto de Angélica Pedroni
A terra gira em torno do seu eixo central, e o tempo, flui. O homem torna-se um ser dito pensante. O ato de se colocar em cima de duas patas, pernas, o leva ao princípio de toda uma história, a história de sua existência. Nós tentamos resgatar esta história através de objetos, estudos, cogitações, de análises, que muitas vezes são vãs. Esta história passa a fazer parte do nosso cotidiano, e todo resquício que possamos obter torna-se algo muito importante. Mas será mesmo importante? O que realmente conta, aquilo que foi, o que será ou o que é?
Li, certa vez, que o pintor, desenhista e escultor suíço Alberto Giacometti (1901-1966) dizia que a obra de arte não acontece no passado nem no futuro, ela é algo que acontece no presente – pergunto-me se ele afirmou mesmo isto ou se foi minha imaginação me pregando uma peça. O fato é que talvez este seja um dos motivos pelos quais o artista destruiu muitas de suas obras. Giacometti dizia que suas obras tiveram o tempo de duração destinado a elas e que estava satisfeito com isto. Duraram efêmeros minutos, horas, quem sabe segundos, outras se eternizaram nos frios espaços dos museus. Sua busca eterna se baseava no desejo de representar o homem da forma como o via, o mais próximo possível daquilo que via, não daquilo que poderia vir a ser ou o que se cogitava ser. Seu desejo era obter uma escultura mais próxima da figura humana, sem a carga de conceitos, status e representação de dogmas, ela seria “concebida” levando em conta o espaço existente entre o artista e o homem, modelo da obra.
Pensando sobre a maneira como Giacometti esculpia e o desejo que ele tinha de representar em sua obra o momento real, lembrei-me de algo que se assemelha um pouco a esta forma de representação: “o ato de caminhar”. Nele existe o momento, não o passado nem o futuro, você só está ali e caminha, e caminha, e caminha. Vive aquele momento, às vezes sozinho, noutras vezes, acompanhado, em algumas situações uma multidão caminha junto. E em cada caminhada, a cada passo, em cada instante uma nova “obra” surge. Traz em si uma visualidade diferente, com um novo pulsar, com ruídos distintos, únicos. E o mundo gira, e o mundo gira, e o mundo gira e vira giramundo. E ao girar vira de cabeça para baixo, e vira o mundo e torna a virar.
Mundo Giramundo, de Aline da Conceição.
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