
Imagem de capa. Captura de tela do filme “The Night Before Christmas”, de Ladislas Starewitch (1913).
Nikolai Gógol, Noite de Natal. In: O capote e outras histórias. Tradução de Paulo Bezerra. Editora 34.
Na véspera de Natal, o diabo roubou a lua.
Com a escuridão, o Sete Peles queria pregar uma peça em Vakula, deboto ferreiro e pintor do povoado. Apaixonado pela mimada Osana, Vakula faria qualquer coisa para conseguir que seu amor fosse correspondido, até mesmo um acordo com o Coisa Ruim.
Essa é uma das narrativas folclóricas de Gógol. Essas histórias misturam vários elementos populares ucranianos, tanto tradicionais quanto mais recentes (para a época). Para quem desconhece o folclore da região, a leitura ainda é muito leve. Tanto as notas de tradução e edição quanto os demais elementos do estilo de escrita de Gógol facilitam esse contato.
Apesar de haver um conjunto de suas narrativas tidas como folclóricas, o sarcasmo azedo do autor continua presente na maioria delas. Em Noite de Natal, texto escrito em 1832, esse tom crítico é muito marcante. Nenhum personagem aparece na história sem ser alfinetado pelo autor. O principal alvo não poderia ser outro além dos homens ricos, preconceitos e violências arraigadas na cultura local e defendidas como valor.
Essa acidez é o que mais me encantou na escrita de Gógol desde que fizemos o primeiro contato, com Almas Mortas. Suas palavras soam despretensiosas. É como se ele se sentasse ao lado e começasse a me contar uma fofoca. Talvez seja isso, fofocas fazem boas histórias!
Apesar do realismo da crítica afiada, que tanto incomodava a sociedade da época, o fantástico (o insólito, o estranho, o absurdo…) são frequentes em suas histórias. Em Noite de Natal, esse fantástico se torna mais evidente por tratar com elementos folclóricos. De maneira mais anacrônica, vale dizer que alguns trechos do texto se aproximam do terror e outros da aventura.
A direção geral da narrativa, como um conto de Natal, possui um tom moralizante. No entanto, esse é um conto de Natal do Gógol. Isso significa que todos os personagens são pecadores desprezíveis e você só não encontrará essas mesmas características no herói, caso se deixe enganar pela ironia. Afinal, vale tudo para salvar o Natal, até mesmo fazer um acordo com o diabo.
.
.
.
.
.
.
.
.
.