[resenha] O moderno e o contemporâneo, de Ronaldo Brito

Imagem de capa. Ronaldo Brito. Moderno e contemporâneao.

Imagem de capa. Recorte de fotografia em preto e branco, com foco nos olhos do crítico Ronaldo Brito.

BRITO, Ronaldo. O moderno e o contemporâneo (o novo e o outro novo). In: Arte Brasileira Contemporânea – Caderno de Textos I. Rio de Janeiro: Funarte, 1980, p. 202-215.

Texto de Rodrigo Hipólito

Esse texto do Ronaldo Brito foi básico, ao menos durante a minha graduação. Lembro-me de quando o li pela primeira vez. É estranho se lembrar, depois de anos, da sensação de uma primeira leitura.

Eu fiquei feliz e empolgado, pois acreditava ter compreendido um cenário que me escapava, quando ouvia as falas de professores. Foi importante ter abraçado essa crença. Do contrário, a curiosidade poderia ter sido soterrada pela chatice.

“O moderno e o contemporâneo” ainda é um texto básico e essa é uma das razões pelas quais ele merece ser lido. Perceba que essa recomendação de leitura está voltada para quem procura uma percepção menos desconfortável sobre como foram as passagens da arte moderna para a contemporânea. Se esse não for o seu caso, procure compreender as limitações autoimpostas do texto.

Como um texto publicado em 1980, “O moderno e o contemporâneo” não foi escrito para funcionar como um material didático sobre teorias da arte contemporânea. Em poucas páginas, Brito tenta organizar a sua trajetória como crítico, pelo menos com relação ao que escreveu nos dez anos anteriores.

A crítica de Brito estava voltada, naquele período, para compreender as recentes mudanças de postura da crítica e da história da arte sobre os objetos de arte, as relações entre artistas, público e estes objetos e a institucionalização dos processos. É errado apresentar o seu texto sob a ideia de que o autor construiu uma teoria que explicita a transição da primeira para segunda metade do século XX.

No sentido contrário, Brito se posiciona na defesa de que não pode existir apenas uma teoria da arte contemporânea. Com relação a isso, o texto centra seu raciocínio na coexistência entre “saber da arte” e “saber sobre a arte”.

A sua conclusão, naquele momento, é de que o caminho que ia do saber produzido pelos trabalhos de arte para o saber produzido pela história da arte teria se invertido. A compreensão sobre a história da arte promoveria uma dobra dos processos criativos sobre seus próprios contextos de produção. Nesse sentido, a arte contemporânea não renunciaria a um constante conflito com suas instituições. Uma das consequências desse conflito seria o “outro novo”.

É sempre bom não ter a expectativa de que, em 14 ou 15 páginas, seja possível sistematizar os acontecimentos de décadas, em mais lugares do que somos capazes de imaginar. No entanto, o desejo de compreensão imediata, aliado à ânsia de algo mais, pode fazer com que inventemos um mundo ideal. Nessa realidade inventada e, quase sempre, provisória, a nossa primeira compreensão a respeito de textos fundamentais pode habitar com conforto. Quando essa compreensão decidir sair da redoma, virar pó e se perder no espaço, deixe que aconteça.

Por sorte (ou não), mantive guardadas as anotações que fiz, quando estava na graduação, sobre o texto de Brito. Algumas delas até fazem bastante sentido!

***

Caderno de anotações.

– O momento moderno é o momento de crise da dubiedade sujeito/objeto. “A radical negatividade Dada; o escândalo surrealista e a vontade de ordem construtivista, com suas diferenças irredutíveis, tinham, porém, um ponto em comum: desnaturalizavam do olho, descentravam o olhar, abriam um abismo no interior da contemplação, lugar por excelência das Belas Artes.” (p. 202)

[talvez o surrealismo possa ser colocado como manutenção da contemplação?]

– Fala-se, então, em “crise da arte”. A arte entra em guerra contra si mesma para permanecer em funcionamento. O visual não é mais domínio da arte.

“Hoje aparece cada dia com mais clareza a distinção — senão a contradição — entre o Saber da Arte e o Saber sobre a Arte.” (p. 204).

– A institucionalização da modernidade gerou a “tradição do novo”. (p. 205)

– Há o reconhecimento do olhar como “programado” e a fuga para a “indeterminação” com isso em vista o trabalho de “recepção” pop é feito dentro de um sistema o mais abstrato que se pode pensar para a arte visual. É um pensamento diretamente revertido sobre A Arte.

– A arte contemporânea encara com cinismo o desafio de “romper a ruptura” e torna-se, aparentemente, em “espaço de repetição”.

“Nenhum happening vale pelo happening mesmo – forma tão instituída como qualquer outra.” (p. 213)

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