
Duas páginas do catálogo da exposição Hapticus silvestris. À esquerda, início do texto de arte-educação, intitulado Tudo é superfície. Tudo é textura. À direta, fotografia da instalação que mostra tecidos semitransparentes pendurados no texto, com imagem de fotografia pendurada ao fundo.
Texto de Rodrigo Hipólito
Acesse o catálogo completo de Hapticus silvestris.
No início do mês passado eu publiquei, aqui, o [texto de processo] Superfície e textura, com o áudio de um dos encontros de formação em arte-educação para arte-contemporânea, promovido pela Galeria Homero Massena para a exposição Hapticus Silvestris, de Flávia Arruda. A exposição encerrou-se na primeira semana de novembro e, nesse momento, a sala expositiva já deve estar branquinha e preparada para receber outra mostra.
Quando uma exposição de arte acaba, as consequências de sua execução são as mais variadas. Alguns trabalhos podem ser conservados em acervos e retornarem para o público em outras exibições. Mas, isso se pensarmos em objetos de arte conserváveis. No caso, de Hapticus silvestris, a instalação exibida não permite esse tipo de conservação. As experiências com o trabalho ativaram e permitiram a sua existência no tempo em que a mostra permaneceu aberta ao público. Desmontada a instalação, podemos resgatar memórias e desdobrar as discussões nascidas dessas experiências.
Ainda que o trabalho fosse remontado em outra instituição, em outro tempo, as mudanças que necessitaria fariam com que se tornasse outra proposta. Nada disso é ruim ou negativo. Ao propor uma instalação, a artista tem consciência disso. A direção, a curadoria e a arte-educação compartilham dessa consciência. Por isso, a maioria das ações voltadas para o público tendem a ressaltar esse aspecto passageiro, que é frequente em trabalhos de arte contemporânea, desde a década de 1960.
Eu pensava um pouco nisso, quando escrevia o projeto de arte-educação para essa mostra. O modo como as exposições na Galeria Homero Massena são pensadas exige que trabalhemos em conjunto a curadoria, o educativo, a comunicação e a proposta da artista. É um princípio de interdependência que me agrada.

Duas páginas do catálogo. À esquerda, fotografia da instalação com impressão fotográfica pendurada em primeiro plano e tecidos semitransparentes ao fundo, com outras fotografias penduradas e dispostas no chão. À direta, início do texto do curador, Erly Vieira Jr. intitulado Hapticus Silvestris e a dimensão háptica da imagem.
Os projetos aprovados no edital são razoavelmente abertos. Isso quer dizer que modificações são feitas na medida em que as conversas ocorrem. No caso de Hapticus silvestris, alguns elementos inicialmente pensados por Flávia Arruda permaneceram até o final. O ambiente imersivo, os tecidos e camadas, as fotografias que conectam visão e tato, as imagens aproximadas, a valorização das texturas, são alguns desses elementos que permaneceram. As formas com que isso pode ser exibido e as discussões que poderiam ser interessantes de serem desdobradas a partir dessas formas, surgiram no caminho.

Duas páginas do catálogo. À esquerda, início do texto da artista, intitulado Olhar com o corpo inteiro. À direita, fotografia de momento de captação de ambiente sonoro da mata Atlântica, com microfone sobre pedestal em maio à arvores.
Um registro fundamental desse caminho é uma das coisas que costumam permanecer após o encerramento das exposições. O catálogo de Hapticus silvestris é representativo para esse trajeto e demonstra como a artista funcionou como um núcleo agregador para curadoria, educativo, comunicação, produção e trabalho de arte.
No texto completo para o catálogo, “Tudo é superfície. Tudo é textura”, comentei algumas possibilidades de trabalhos educativos que partem dos elementos dessa instalação. Esses exemplos de atividades podem ser utilizados mesmo após a desmontagem da obra. Do mesmo modo, as imagens de Hapticus silvestris podem continuar a servir de indicação para pensarmos atividades que nos aproximem de trabalhos de arte contemporânea. Em síntese, catálogos atenciosos são dos materiais mais úteis para quem precisa e deseja pensar arte-educação.
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