Caderno de Anotações, p. 104, 21.01.2012
Bacamartes
A prática do Duelo de Lanças Costeiro, ou Duelo de Lanças ao Vento, é desenvolvida nos veraneios litorâneos, de origem recente e vinculada as atividades dos içadores de pipas. A curiosa luta de varas travada nas areias da praia já agrega platéia entusiasmada e conquista adeptos como uma verdadeira pandemia (primordialmente indivíduos do sexo masculino com idade entre 27 e 37 anos).
O olhar capta, ao longe, os pequenos traços, diagonais que se movimentam tortuosamente; dizemos delas; vez e outra se direcionando febrilmente para um mesmo ponto. Na aproximação percebe-se o detalhe dos voadores; quadriláteros, pentágonos e hexágonos coloridos pululando o céu de poucas nuvens; seguros por fios afiados. As pipas travam uma batalha indireta no firmamento enquanto no limite da areia seca os pés descalços desenham no solo uma vontade difícil de entender; e os corpos multiformes carregam os bacamartes piques de cá para lá e de lá para cá (piques de 5, 10 metros); numa dança desengonça de conjuntos que se batem; desconjuntados; as varas com vestígios de folhagem nas pontas, ou por vezes verdadeiros troncos de talvez significativo peso, eram, de início, utilizados para recolher os papagaios das castanheiras densas que invadem o concreto; na conclusão de que seria possível recolher as aves de papel-de-seda antes do entrelaçamento mortífero com os galhos, a atitude tornou-se massiva; breve terá cores e penachos, arenas e ordem…(?)… quem sabe, um espetáculo de representação de verdadeiras falanges gregas…
“aves de papel-de-seda” ficou muito bonito.