Texto de Fabiana Pedroni.

26.01.2013, 3h15min

O mar das 3h é muito diferente do mar das 15h? Já não tenho tanta certeza se é apenas uma questão física, de temperatura, densidade, rotação da Terra e óptica. Parece mesmo que o sentido é outro. E não importa, realmente não importa.

Ainda sinto aquela ampulheta quebrada, que deixa escorrer areia para todos os lado. Como se fosse possível ter lados em questões não dimensionais. Junto da areia espalhada, aquele hábito. Caminhar vigilante. Eu tento voltar, mas a areia já sujou meus sapatos.

Imagem de capa. Sem título. Fabiana Pedroni. Fotografia. 09.01.2013. Linha do horizonte no mar, com navios, céu azul, nuvens brancas e cinzas e pipa voando no centro da imagem.

Como voltar no pensamento se já estou noutro grão de areia? Parcelas ínfimas de tempo que tentamos preservar mesmo sabendo que o tempo como afirmamos não existe. O relógio é valioso para aquele que o mais importante é a ação momentânea, sem apegar-se ao passado nem se podar como erva daninha por medo do futuro.

3h ou 15h, que diferença faria se eu não parasse para pensar e respirar ares não mecânicos? Talvez eu dissesse que o mar é diferente por sua temperatura e comportamento dos peixes (algo que de fato não sei), mas é o mesmo. O sentido é outro, mas não o mar. Fecho os olhos e ele é o mesmo de minha seleção: meu pedaço de mar.

É diferente o que construo: aquele que há horas (dias e meses) era um pormenor do limite-cidade, hoje é um pormenor dionisíaco, de grãos espalhados sobre a areia. E não importa se a ampulheta não tem mais conserto, que seus vidros estejam rachados e seus alicerces tombados. Ainda assim a palavra se aconchega naquele grão de areia disperso e camuflado. E o tempo, aquele do viver, se aloja entre cada gota de vinho despejada em papel.

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