Rodrigo Hipólito; Alana de Oliveira. Trabalho exposto na mostra “Corpo Manifesto”, Galeria Corredor, Vitória, ES, 14/11 – 22/12, 2017
Você concorda que pornografia deveria ser proibida em galerias de arte? Você já assistiu outras pessoas trepando? Das muitas contradições presentes em momentos de crise, frente à censura de propostas de arte, uma das mais perigosas é a reação de negação, por parte do cenário artístico, da presença de elementos publicamente repudiáveis. Quando esses elementos são populares e mesmo necessários para a liberdade expressiva, isso é mais grave. Negar a presença de conteúdos eróticos e pornográficos reflete um longo processo histórico de repressão de práticas sexuais e mesmo da construção da ideia de sexo como algo privado, vergonhoso e condenável.
Trabalhar publicamente com a presença de elementos eróticos e pornográficos como forma de evidenciar tal construção cerceadora é ainda bastante complexo e merece espaço de discussão. Antes mesmo de pensarmos a possibilidade do entendimento de sexo e erotismo como algo público, constante, inevitável e desejável, enfrentaríamos a dificuldade de falar do corpo sexual.
Quando observamos nossa linguagem comum e suas modificações, notamos que a grande quantidade de palavras que permitem a referência às práticas sexuais sublinha tanto a necessidade de verbalizar o tema quanto a proibição desse falar. Tal variedade carreia, por outro lado, a erotização de uma enormidade de elementos presentes em nossas ações corriqueiras. Quanto mais desvios abrimos para não falar publicamente de algo, mais presente essa coisa se mostra. Essa presença, no entendo, não significa uma conversa. Acreditar que as práticas sexuais e o diálogo sobre elas deve ser restrito ao ambiente privado e afastado da infância implica em não nos ocuparmos para que haja relações física e emocionalmente saudáveis. Relegar a educação sexual a pornografia mainstream e a misoginia entranhada em nossas expressões quotidianas e aceitar um futuro cada vez mais violento e mais distante do gozo feliz. Fica aqui a vontade louca de que não tarde o dia em que todas as palavras gritem prazer.
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