[crítica] Eu escrevi um texto sobre o seu trabalho

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“Eu escrevi um texto sobre o seu trabalho. Logo vou publicá-lo”.

Não gosto de pendências. Elas me torturam. Durmo pensando no que deveria, acordo achando que já deveria, mas a pendência continua, porque continuo no quase-texto. Já faz uns 2 meses que este texto está quase pronto. No dia em que eu disse à autora sobre esta resenha, eu estava empolgada, porque havia acabado de fazer mais anotações e iria finalizar tudo à noite. Mas, não encontrei o ponto final. E mesmo agora, nesta tentativa de finalização, assumo uma escrita que não me satisfaz: de relato e resmungos.

Vamos tentar uma outra introdução.

***

 

[…]

Impossível. Paro diante da folha em branco, ao lado das folhas que compunham as anotações para a resenha, emaranhadas de riscos, frases soltas, anotações feitas na espera do ônibus, os erros ortográficos, tudo me leva a não conseguir criar uma linha que una as palavras e tente explicar o que significou a leitura de “Aquilo que vivo, enquanto caminho”, de BeatriZanchi. Talvez seja minha dificuldade em lidar com poesia.[1] Talvez seja o tempo que fiquei dedicada a ler e ruminar as palavras, as imagens, os sons, os cheiros, as experiências que o livro desperta. O picolé de domingo, o banho no rio, o efeito do mar, a insônia, o silêncio, tudo é partilhado. Como lidar com tamanha empatia no meio de um caos urbano, de vida corrida, de… mais resmungos…?

A tensão da ansiedade por novas memórias e da impossibilidade de quebrar uma rotina que nos devora, trouxe-me a frustração. Seria aquela a mesma rua pela qual aquele olhar caminhou?

A leitura traz um estranho deleite de respiro, que me fez atentar para o que falta. Fiquei bons dias presa no título da obra. Aquilo que vivo, o que será que vivo, se vivo… enquanto caminho… eu vivo enquanto caminho ou o caminho vive enquanto… exato. Perdida.

Curiosamente repeti o hábito de abrir aleatoriamente o livro para que ele me indicasse um destino de ordenação das ideias. Repetidamente as páginas 34 e 35 insistiram em vir à tona. Irônico, não é?

 

Nessa cartografia, encontrei as experiências da autora em cada lugar, senti o desejo de conhecer A casa da goiabeira, em Atalaia, ou a casa que é o centro da saudade. A autora caminha e escreve suas vivências, suas memórias do instante misturadas ao passado. Encontro-me, em vários momentos, a ler enquanto caminho, a encontrar rostos de porcelana em memórias azuis.

 

Talvez frustração não seja a palavra certa, mas descobrir que não conheço nada de Atalaia é um incômodo. “Não damos conta de tudo”, foi o que eu mais repeti este ano, e mesmo assim, não quis reconhecer que não sabia de Atalaia.

As muitas anotações que fiz, as observações do meu dia a dia e as situações com pessoas desconhecidas tornaram-se desdobramentos para pensar esse caminhar que a proposta poética de BeatriZanchi suscita.

No final, eu escrevi, sim, um texto sobre o seu trabalho, mas o esqueci enquanto caminhava.

[1] Já falei desta questão aqui.

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