Dia 31 de outubro é dia do Saci. Nada melhor do que uma entrevista para que ele mesmo diga o que tem aprontado por aí!
A entrevistadora é a Keca, uma menina de 10 anos, que nasceu no Brasil e agora mora na Alemanha. Ela tem sido uma ótima correspondente para compartilhar com as crianças expatriadas a cultura brasileira.
Você pode ler mais sobre a Keca no projeto Uai, Keca?, bem aqui. É de lá, aliás, que veio essa entrevista!
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Keca entrevista – Saci
Saci, o amigo da onça! Uma entrevista

Keca: Eu não tenho nem roupa para receber o convidado da minha primeira entrevista! Mas tia @kellyabreuilustra fez uma mágica e, plim, estou de bruxinha. Agora sim! Bem-vindos ao primeiro Keca Entrevista! E meu primeiro convidado é uma excelente representação do que é ser brasileiro. Uma lenda indígena que ganha forma e corpo através da herança cultural europeia e africana (Obrigada tia @cami_causos por me ajudar com essas palavras complicadas). Sem mais enrolação, eu falo é do Saci!!! Saci, seja bem-vindo. Espero que você não se importe por eu estar vestida de bruxinha, mas sabe como é, né? Outubro também é o mês do Halloween.
Saci: Olá, Keca, oi, pessoal. Então, eu não me importo, não. Aliás, eu nasci há tanto tempo, mas tanto tempo, que nem calendário tinha ainda, eu nunca tive uma data de aniversário assim como meus amigos e colegas de folclore também não. Aí um dia, uns homens brancos aí ficaram de implicância com o Dia das Bruxas e resolveram fazer uma lei para eu ter um dia meu, e escolheram logo o Dia das Bruxas. Quero aproveitar o espaço para deixar claro para minhas colegas bruxas, elas que vem aí de histórias de outros países mundo afora, que eu não tenho nada a ver com isso. Eu gosto das bruxas, elas são divertidas!

Keca: Já que você falou aí das bruxas de outros países, você já conheceu alguma bruxa, já foi para outro país?
Saci: Sim, já conheci. Na verdade, aqui no Brasil mesmo nós temos uma bruxa, a Cuca. Todo mundo pensa na Cuca como uma espécie de jacaré ou dragão com peruca, mas na verdade a Cuca pode assumir a forma que quiser. Eu já conheci outras bruxas também, quando fui parar no reino da Bela. Só que lá os humanos fizeram um pacto de paz com elas. Eles não as perseguiriam e elas não fariam mais nenhuma magia que os prejudicasse. Por isso, viver lá ficou tão tedioso. Quando eu cheguei, eu comecei a fazer umas travessuras e logo os humanos ficaram uns brigando com os outros. Vocês humanos são tão estressados! Parte dessa minha viagem foi até narrada em um livro, em alemão e português!
Keca: Uau! Você conheceu a Bela! Ela é linda mesmo? Eu amo princesas!
Saci: Eu nem cheguei a vê-la direito! Ela armou uma arapuca e me prendeu numa garrafa com guaraná! Depois disso eu não vou muito com a cara de princesas não.
Keca: Ela te prendeu numa garrafa? Mas isso não é coisa que se faça!
Saci: Pelo menos ela não pegou meu gorro. Aí eu teria que ficar preso lá naquele lugar tedioso sabe-se lá por quanto tempo!
Keca: Vamos falar então de algo mais descontraído! Você falou de ter essa história narrada em livro. Tem muitos livros contando muitas histórias suas, né?

Saci: Sim! E olha que o que não me falta é história a ser contada! Mas, como eu te disse, né Keca, eu já vivo há muitos anos e fui me transformando com o tempo. Como uma lagarta que um dia vira borboleta. Nós, lendas, somos assim. Nos transformamos e nos adaptamos à novas realidades. É um processo sem fim. E é muito bom que sempre haja autores dispostos a contar novas e diversas histórias em diferentes momentos das nossas vidas. Agora, por exemplo, saiu um livro feito para crianças que moram fora do Brasil, chamado “O Saci: uma história do folclore brasileiro”. Nesse livro, as autoras mostram o quanto é chato ter que sempre ouvir a mesma pergunta: O que eu fiz ou o que aconteceu para eu perder minha perna? Como se a falta da perna definisse quem eu sou! Teve até um lá que disse que eu devo ter aprontado algo e que nem consegue ficar com dó de mim. Como se você tivesse que ficar com dó de alguém com alguma deficiência, ou fosse culpa dela ter deficiência. Isso me deixou muito irritado! Até porque, eu não sinto que a falta da perna seja um déficit para mim… E interessante nisso é que tem gente que acha que eu nasci assim, mas lá nesse livro eu conto para minha amiga onça o que houve. E as crianças ainda podem fazer seu próprio teatrinho, me pintar da cor que quiserem, recortar personagens e fundo e contar suas próprias histórias, pois é um livro de atividades com teatrinho de fantoches. É super divertido!
Keca: Que legal! Tem muita coisa divertida! Mas, Saci! Você é o amigo da onça? Hahaha
Saci: Hahahaha. Sim, Keca, eu sou um amigo da onça. As pessoas associam o amigo da onça como alguém falso. Tudo por causa de uma história. Havia dois caçadores. Um deles contou a história de como conseguiu se livrar de uma onça sem a espingarda, apenas no grito. O outro duvidou e disse que se fosse verdade a história, a onça o teria devorado. Aí o amigo respondeu: “Mas você é meu amigo, ou é amigo da onça?”. Depois disso, lá pra década de 1950, o cartunista Péricles Albuquerque Maranhão, O Péricles, criou o personagem “Amigo da onça“, que era falso e oportunista. Foi daí que essa expressão ficou conhecida dessa forma. Mas, eu, quando viro seu amigo, sou um amigo de verdade! Hahaha.
Keca: Uau, quanta coisa que eu não sabia! E o que se precisa para ser amigo do Saci?

Saci: Tem que saber levar a vida no bom humor, com leveza, leve a ponto de sair voando no vendaval. Tem que saber lidar com trollagem, com brincadeira, não se levar a sério, manter o bom humor. Acho que ser criativo também. Por isso eu me dou bem com crianças! Elas até ficam bravas comigo, mas são muito criativas e logo a braveza passa. Eu, por exemplo, virei amigo da Chapeuzinho Vermelho. Tem até um livro com nossas trocas de e-mails. Infelizmente ainda não nos conhecemos pessoalmente. Mas crianças são maravilhosas! Uma pena que crescem. Na verdade, acho que se crescerem se divertindo, vão virar adultos divertidos. É isso que espero!
Keca: Dois Chapeuzinhos Vermelhos! Ah, Saci, quero já virar sua amiga também! Foi maravilhoso nosso bate-papo! Muito obrigada por aceitar ser meu primeiro entrevistado do Keca Entrevista! Espero que possamos repetir mais vezes!
Saci: Sempre que quiser, Keca! Foi muito divertido e espero que todos possam se divertir com a gente e com as minhas aventuras.
*Link do livro do projeto Uai, Keca?:
O Saci: Uma história do folclore brasileiro
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