Fabiana Pedroni. Conjunto de épocas, texto datilografado e manuscrito, 2012
Texto de Fabiana Pedroni
Há poucos dias Rodrigo escreveu aqui no Nota Manuscrita sobre o ato de voltar a seus textos antigos. Disse assim: “Com o tempo, percebi que eu inventava mais complexidade do que as coisas das quais eu queria falar possuíam. Isso era uma tentativa honesta, ainda que egoísta, de deixar o mundo mais interessante. Com o tempo, eu percebi que o mundo é mais gostoso quando é mais simples de saborear.”
E lá vamos nós para um texto meu de 2012. Conjunto de Épocas faz parte de uma série de experimentações na datilográfica. Textos curtos, escritos de forma rápida e levemente calculada, para tentar não cometer tantos erros de digitação. Todo erro em uma máquina de escrever, é um registro inapagável.
A insegurança e a ânsia por autoafirmação como pesquisadora mostram um texto truncado. Com misturas poéticas experimentais e jargões maçudos acadêmicos, o texto me lembra bolo solado, mas ainda gostoso.
A vontade de escrever aquilo que havia recém descoberto: Arte não estava presa na disciplina de História da Arte, na qual me especializava, nem na produção artística, a qual experimentava. As fontes das artes podiam estar numa lembrança riscada numa revisão manuscrita: “A arte bebe das fontes [ainda que seja de noite] de sua própria história”.
Seja lá de onde se bebe para aquilo que se cria, a gente cria.
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Conjunto de Épocas. Apontamentos datilografados 30/06/2012. Palavras e frases entre colchetes são acréscimos manuscritos em revisão no mesmo dia.
Movimentação da produção atual para uma complexização que digira o legado artístico anterior. O aberto de possibilidades [vazio] expande a obra atual para o campo da pesquisa teórica. A pesquisa plástica, por novos materiais e suportes, caminha juntamente com o avanço tecnológico cotidiano. [sociedade sem-fio]. Os limites das disciplinas tornam-se cada vez mais fluidos [mas não deixam de ser disciplinas]. [Cf. Modernidade Líquida]. A arte bebe das fontes [ainda que seja de noite] de sua própria história, molha os pés na História multifacetada, escorre pela Cultura e respira ares filosóficos.
Em uma época que a diferença e o múltiplo se popularizam, o lema “Arte para todos” [ilusão de que todos são para a Arte] torna-se uma utopia ultrapassada, assim como a construção de uma “Arte pela arte” mostrou-se inconveniente em outros momentos. [sujar os dedos de tinta é belo, usar computadores é belo, professor não entende sempre será feio]. Autonomia, isolamento, busca pela materialidade seguida por uma busca de novas estruturas, inserção no mundo, na vida, movimentos anteriores que hoje aglomeram-se e justificam a arte atual. [A busca pela indeterminação no mundo calculado].
A importância da teoria e história da arte para a produção contemporânea evidencia o desejo de determinado grupo de artistas pelo entendimento aprofundado de questões anteriores, absorvidas ainda de modo superficial [ou mesmo empurradas para o fundo da gaveta por medo de passar à frente]. Não se pautam mais na oposição, superação ou apropriação material da arte anterior, mas nos desdobramentos, nas re-significações e no aprofundamento de discussões possíveis. [A aproximação não é mais do martelo sobre o prego, mas do prego dentro da madeira]. O afastamento temporal permite fazer da arte um objeto para novas produções [sem medo, por favor]. A inserção no âmbito de discussões teóricas fortifica o aparecimento de uma arte carregada de conceitos filosóficos (como a percepção fenomenológica do mundo) e pontuada no reconhecimento de sua existência temporal. [Isso É agora, o amanhã não existe]. Estas determinações possibilitam a convivência de diversas épocas na arte contemporânea, em meio a qual surgem pinturas expressionistas, desenhos abstratos ou figurativos, esculturas realistas, performances, instalações, videoarte etc. [Existir na mesma casa não pressupõe diálogo, muito menos família]. A problemática encontra-se no não reconhecimento destas épocas e a própria ignorância do passado.
O passado é construído [inventado] no presente e o presente encontra no passado a sua justificativa. [sonho].
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