[artigo] Fantástico, surreal e monstruoso em Zdzislaw Beksinski

HIPÓLITO, Rodrigo. Fantástico, surreal e monstruoso em Zdzislaw Beksinski. Revista Farol, [S. l.], v. 19, n. 29, p. 257–275, 2024. DOI: 10.47456/rf.v19i29.42930

Esse artigo trabalha com as possibilidades interpretativas, desenvolvimento no processo poético e motivações para a grande circulação das obras do artista polonês Zdzislaw Beksinski no cenário pós-internet. Especificamente, tratamos de obras do seu chamado “período fantástico”. Através da descrição detalhada de algumas de suas pinturas e da comparação com análises já realizadas sobre seus trabalhos, apontamos características de sua figuração presentes em seus esboços e desenhos, o uso de elementos do imaginário da Guerra Fria e possíveis referências dentro do cenário polonês e do surrealismo.

Zdzisław Beksiński. Pintura. 1975. Podcast.

Imagem de capa. Pintura em óleo sobre tela, de Zdzisław Beksiński, de 1975. Sobre um chão coberto de cinzas, restos e ossos queimados e insetos mortos, com uma cidade em chamas ao fundo, caminha, em primeiro plano, uma criatura quadrúpede, meio humana, com tronco preto e sem contornos definidos, membros esqueléticos e cabeça oval, envolta em bandagem branca.

A primeira versão de “Fantástico, surreal e monstruoso em Zdzislaw Beksinski” foi lançada como podcast, no episódio 12 da quinta temporada do Não Pod Tocar. Em seguida, o episódio foi publicado como transcrição. A partir dessa transcrição, verifiquei referências, tanto do pouco que já foi escrito, em âmbito acadêmico, no Brasil, sobre o artista, quanto de fontes estrangeiras. Além disso, desenvolvi uma possibilidade de análise do desenvolvimento das pinturas do período fantástico de Zdzislaw Beksinski que se diferencia de uma tradicional análise psicanalítica de sua produção. Sem invalidar tais análises pregressas, apresentei algumas relações de desenvolvimento formal entre seus desenhos e esboços e suas pinturas mais conhecidas.

Zdzisław Beksiński, óleo sobre tela, 1972, 100 x 122 cm. Fonte: Wiki Art: visual art enciclopedia.

Zdzisław Beksiński, óleo sobre tela, 1972, 100 x 122 cm. Fonte: Wiki Art: visual art enciclopedia. A coisa retratada na imagem tem enormes mãos esqueléticas, com pele esticada e unhas grossas e quebradas. Essas mãos estão diante do peito e envolvem um embrulho de tecido vermelho, com a mão esquerda segurando a coisa e a direita servindo de suporte para que a pequena criatura se sente. Há alguém envolto naquele tecido vermelho. Um feto, ou uma criança desnutrida, ou um cadáver. Na parte de cima do tecido, ressalta-se a cabeça, na parte de baixo, pendem os dois pés magros. As mãos que protegem o minúsculo cadáver saem das mangas de um paletó marrom puído, largo demais para quem o veste. Para baixo, a imagem é interrompida no meio das pernas. Não é possível determinar a altura dessa criatura que está de pé, a poucos metros. Ela é esguia. Podemos supor que os ombros sejam ossudos como as mãos. Sobre esses ombros, não há uma face humana. Sem pele, surge um crânio avantajado, que lembra a carapaça de um caranguejo. Podemos perceber a separação dos ossos do crânio, na parte de cima, amarelada. Na parte inferior dessa cabeça, não há maxilar, boca ou nariz visíveis. Duas cavidades oculares muito afastadas misturam-se com a escuridão, que é encerrada por um lenço cinza que envolve um possível pescoço. O amarelo dessa cabeça quase brilha em um cenário cinza. Como se aquele mundo tivesse sido queimado e só restasse fuligem. Na parte de cima da pintura, a linha do horizonte indica uma pequena elevação. À direita, há uma construção quadrada, com dois, três ou quatro andares. É apenas uma sombra, no meio da qual se destacam duas janelas acesas, como olhos. Para além desse horizonte, apenas o céu escuro, por trás de um véu de névoa, sem estrelas, sem nada.

Junto desse entendimento, realizo a descrição e análise de quatro de suas obras, duas de 1972, uma de 1975 e uma de 1976. Durante tais descrições, reafirmo a compreensão de seu “estilo” como realismo fantástico (Cattaino, 2011, p. 81-82) e o relacionado com possíveis influências dentro da pintura polonesa (Artur Grottger, Edward Okuń) e com o surrealismo sombrio de Max Ernst.

O texto completo do artigo pode ser acessado na edição de número 29 da Revista Farol, periódico semestral do Programa de Pós-graduação em Artes da Universidade Federal do Espírito Santo.

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