27 de Outubro de 2012.
Corina: ¿Que son microvídeos?
… São o contrário dos screem tests, coisas quase tão insignificantes quanto um prédio parado. Mas são também retratos, limitados pela técnica, pelo aparelho, pela programação do aparelho, que evidenciam recortes micro, recortes específicos da ordem da afetividade, de uma afetividade passageira, rápida e destituída de nobreza, tão passageira e rápida quanto um click fotográfico objetivo entre um movimento de aspiração e outro.
Corina: ¿Que los microvídeos intentan hacer?
… Você já se entregou por algum instante para uma visão estúpida, nada bela e de interesse incerto suficiente para extinguir-se no instante seguinte? Aprender a reconhecer os instantes de imagem feitos para escapar, feitos para serem instante, como aquilo que mostra seu mundo íntimo e registrá-los de um modo avesso a formação de conteúdo cinematográfico é um dos objetivos dos microvídeos.
Corina: ¿Y lo que sería este contenido cinematográfico evitado?
… É aquilo que é grande, importante e que tem uma categoria forte e um brilho todo especial, que dá pra se ver a distância e dizer que é um filme. Mesmo os vídeos produzidos de tempos pra cá funcionam assim, são grandiosos, ainda que sobre temas particulares, transformam o íntimo num espetáculo. Tal esquema não é ruim, apenas um pouco triste e agressivo às vezes. Transformar uma bolha de sabão num arranha-céu de plástico transparente é interessante para a bolha em algum nível. Apenas a direção aqui é outra e para tomá-la evita-se o cinematográfico (embora não se possa evitá-lo na construção interna das imagens, depois de tanto tempo). Em outro nível, não o dos arranha-céus, pode ser interessante para a bolha gerar algum conteúdo frágil mortiço quanto à própria bolha.
Corina: ¿Qué hay de especial en un microvídeo?
… Para alguém além de quem o produziu, provavelmente nada. Caso encontrem algo para chamarem de especial, não precisam creditar à imagem. É (ou foi) algo especial o suficiente para chamar atenção de uma captação. Pode ser muito especial, realmente muito especial, quando pensamos que ali está uma parcela pequena, mas gratificante, de um modo grosseiramente particular de olhar para o mundo, um pontinho vago e incompleto daquilo que podem chamar subjetividade. Para acessar essa intimidade é cobrada uma consciência, a consciência da exclusão: aquilo não foi feito para você e somente pode compreender o quanto é próprio de alguém e o quanto algo ínfimo pode lhe ser próprio, quando começar a reconhecer e aceitar que está sempre “de fora” dos melhores momentos para o outro.
Corina: ¿Los microvídeos no son hechos para fruición?
… São sim. Não se escapa da fruição e não vejo por que tentar. Também não é possível parar na fruição, por mais confortável que isso pareça ser. Quem entra em contato com um conteúdo sensorial atiça o pensamento assim como As Vinhas da Ira pode fazer chorar ou odiar (sempre alguma coisa acontece). Mas é que existem analfabetos funcionais da estética assim como da literatura. Ler e não entender, ver e não entender, ouvir e não entender, acontece com a maioria. E é o mesmo que não ler, não ver e não ouvir. A fruição aqui leva em conta o pensamento, leva em conta a atitude de perguntar para si mesmo o que é isso que você vê, antes de perguntar para outra pessoa. Por que é curto? Por que é mal definido? Por que as pequenas dimensões? Por que vem acompanhado de palavras? E tantas outras coisas menos óbvias que podem passar pela cabeça de quem vive por aí, recortando coisas em janelas e apertando teclas o tempo todo.
Microvídeos
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