[resenha] Siete llaves para valorar las historias infantiles, parte 3

Resenha. Siete llaves para valorar las historias infantiles. Teresa Colomer.

Imagem de capa. Livro “Siete llaves para valorar las historias infantiles”, organizado por Teresa Colomer.

Resenha escrita por Fabiana Pedroni.

Referência completa do livro resenhado: COLOMER, Teresa (org.). Siete llaves para valorar las historias infantiles. Madrid:Fundación Germán Sánchez Ruipérez, 2002.

O livro organizado por Teresa Colomer estabelece sete chaves para atribuir valor ao livro infantil. Na parte 2, falamos sobre a segunda chave que se encontra no itinerário do leitor dentro do livro. Nesta chave é preciso compreender as distintas formas de se entrar na história (início), de se permanecer dentro dela (organização da narrativa) e de se sair da história (o final). Agora, vamos trabalhar a terceira chave e no final deste post você encontrará o link para a próxima chave!

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Terceira chave: Vozes narrativas

A terceira chave (capítulo 3) diz respeito a como a voz do narrador é utilizada em função do efeito que se quer causar ao leitor (p.64), sabendo que a voz do narrador é, na verdade, várias vozes de outras pessoas que contam algo para as crianças.

Pode ser que o narrador seja onisciente, que tenha pleno conhecimento sobre todas as coisas que diz respeito à história que narra. É uma das vozes narrativas mais comuns nos livros infantis. Mas, este não é único tipo de narrador. Muitas vezes, o narrador pode estar detrás do protagonista, com intuito, por exemplo, de aproximar empaticamente o leitor ao personagem, promovendo uma espécie de projeção (p.65). Assistimos a história através da perspectiva do protagonista, por mais que ainda escrita em terceira pessoa. Quanto mais se personaliza um narrador, pode ser que, mais se diminua a confiança que o leitor tem de que ele saiba tudo da história que conta. Afinal, ele ganha uma perspectiva, e possivelmente não possui todas, como o narrador onisciente. Essa escolha tem sido cada vez mais comum, porque ela reduz a voz autoritária e permite que o leitor questione o nível de informação que o narrador possui da história que conta.

Pode-se também construir a obra a partir de um monólogo interior, em que a narrativa se construa da voz de um personagem, e não por fatos revelados deste personagem pelo narrador. Essa opção de voz narrativa aumenta a cumplicidade do leitor, pelo compartilhamento do discurso oral. Permite também “simular uma visão infantil do mundo e contrastá-la com a visão habitual, de maneira que se produza um efeito paródico” (p.67), e um mundo visto pelos referentes infantis. Nesse tipo de voz narrativa, tanto o narrador quando o leitor entram na história por uma imersão, em que é possível uma incompreensão do mundo da parte de ambos, eles podem rir das discrepâncias entre a linguagem e o mundo evocado (p.68). Isso não seria possível com um narrador onisciente, pois, como ele ficaria confuso, junto do leitor, se ele sabe de tudo? Mas, há riscos de se tornar confuso, de que o leitor e o narrador se percam nas digressões dos pensamentos cotidianos.

Há ainda um narrador supostamente transparente, que mostra, que explica um diálogo, mas não narra externamente. “se exige um maior esforço de reflexão, mas aqui não se trata de um ‘pensa comigo’, e sim um ‘pense por si mesmo’.” (p.72) Essa voz é útil para trabalhar temas mais difíceis, duros, em que é preciso afastar um pouco o leitor, ao invés de criar cumplicidade. O silêncio do narrador propicia um distanciamento emocional. Ou também quando se quer que o leitor pense por si e de modo mais aprofundado, a depender do modo como esse silêncio do narrador é trabalhado.

Ainda há um narrador que interpreta o mundo que descreve e, desse modo, pode ser carregado de valores sociais e morais. Em muitas obras infantis, as crianças são superiores aos adultos, no mundo de inocência e fantasia, mas nem sempre é assim.

Para o autor, o mundo está repleto de vozes de outras pessoas, que ele interpreta para seu próprio discurso. Para incorporar outras vozes, pode ceder a palavra aos personagens. Os diálogos, além de agilizarem as informações dadas ao leitor e de dar um descanso para a leitura, também podem convocar vozes distintas das que o leitor estava acostumado, com adequação ao personagem. O autor pode até criar discrepâncias entre o que o narrador afirma e o que os diálogos mostram.

Vale dizer que se fala para crianças também em presença de adultos — aqueles que julgam a moralidade, o valor literário e que selecionam os livros e asseguram as vendas e reconhecimento crítico. A voz que conta a história que decidirá se será explícito ou não o saber da presença adulta. Questionar se uma história é ou não infantil tem pouco a ver com até que ponto da história uma criança consegue entender, visto que uma criança pode desfrutar da literatura mesmo sem a compreender em todas as suas implicações (p.79).

Por fim, a última chave pontuada no livro organizado por Teresa Colomer, afirma que  o falar de modo convincente é um fator importante para se avaliar um livro infantil. Para que o leitor possa aceitar a voz, ela precisa ser convincente, verossímil, um discurso que resulta coerente e apropriado. Falar de um local conhecido, um bairro que pode ser um lugar-comum, uma língua coloquial de fácil apreensão, encontrar meios de se aproximar do leitor, mas quando se utiliza uma voz narrativa que o afasta intencionalmente. E acrescento, é preciso criar uma conexão para que o leitor possa criar suas inferências dentro da narrativa, possa levar sua voz para dentro do entendimento do livro. Afastar um leitor intencionalmente daquilo que se discute, como abuso infantil, é muito diferente de não conseguir dialogar com o leitor.

Como nos outros capítulos, encerra-se com uma lista de problemas ao quais se deve atentar para avaliar um livro infantil. Abaixo vocês acompanham quais são os problemas da voz narrativa:

– O narrador pode adotar um tom oral para se referir às crianças na intenção de ajudá-las, mas, também pode afastar-se demais das convenções escritas e dificultar a leitura, até exigindo que se leia em voz alta;
– Pode ser que o leitor se incomode com um narrador que se desvia da história para tentar construir um relato, mas que faz o leitor suspeitar que ele é apenas um predicador disfarçado de “um de nós”;
– Pode ser que um narrador queira mostrar tanto que não deixe chaves para que o leitor possa interpretar a história. O leitor dirá: “E…?”;
– Uma narrativa que esteja mais interessada em mostrar uma interpretação do mundo pode se constituir como um sermão, e não se aproximar do leitor para contar uma história e a relação desta com o narrador;
– Pode ser que o leitor não tenha experiência suficiente para reconhecer outras vozes incorporadas ao discurso; sua resistência dependerá do quanto ele está perdendo (p.82).
– Pode acontecer que o autor privilegie o leitor adulto, com piadas que só ele compreenderá. O leitor infantil pode ficar excluído da diversão, ou ficar chateado quando se der conta dessa exclusão;
– Pode ocorrer que os diálogos soem falsos “porque se ouve o narrador falando através dos personagens, ou que todo os personagens falem igual e não segundo sua própria personalidade. O leitor se sentirá estafado ou lerá uma simples narrativa dialogada sem implicar com a identidade dos personagens” (p.82)

Para acessar a próxima chave clique aqui.

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3 pensamentos sobre “[resenha] Siete llaves para valorar las historias infantiles, parte 3

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