
Imagem de capa. Livro “Siete llaves para valorar las historias infantiles”, organizado por Teresa Colomer.
Resenha escrita por Fabiana Pedroni.
Referência completa do livro resenhado: COLOMER, Teresa (org.). Siete llaves para valorar las historias infantiles. Madrid:Fundación Germán Sánchez Ruipérez, 2002.
O livro organizado por Teresa Colomer estabelece sete chaves para atribuir valor ao livro infantil. Na parte 03, falamos sobre a terceira chave que se encontra nos diferentes usos da voz narrativa. Agora vamos trabalhar a quarta chave e no final deste post você encontrará o link para a próxima chave!
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A quarta chave (capítulo 4) é a experiência estética do livro, tanto visual como literária, que vai expressar a realidade explorada.
“[…] um escritor e um ilustrador podem desenvolver uma narrativa para transmitir uma história, mas isso não parece muito interessante se eles não escolherem e combinarem as peças para que o cenário se torne uma oferta artística, um objeto linguístico e plástico que produza uma experiência mais intensa e mais complexa. Quando a leitura dessa narração dialoga com a experiência anterior de vida e de leitura, verbal e plástica, dos receptores, é capaz de gerar uma experiência estética, algo tão gratuito quanto agradável, ao qual todos os seres humanos são capazes de reagir” (p.83).
Para a terceira chave, centrada na experiência estética, separa-se uma seção dedicada ao trabalho das palavras e outra para a ação das imagens.
Em relação ao texto, para que ele se torne uma experiência estética, pode-se recorrer ao eco com a tradição. Há que se pensar: Qual o lugar em que se passa a história? Como ele é apresentado? Como ele dialoga com as estruturas tradicionais e a história da literatura? contos folclóricos e tradicionais fazem uso do nosso reconhecimento de marcas simbólicas que guiam a leitura, como reconhecer o perigo de uma floresta escura e o maravilhoso de um buraco em tronco de árvore.
Além disso, para criar esta experiência há que se ter atenção nas escolhas das palavras, suscitar percepções e emoções, criar situações e lugares no texto. Trabalha-se a linguagem, a dominamos em seus signos para que seja efetiva.
“É um dos grandes ensinamentos da literatura. Permite-nos não estar à mercê da linguagem alheia, mas sim poder compreender o mundo que se expressa nos discursos que nos rodeiam e, ao contrário, dá-nos a possibilidade de nos fazermos compreender pelos outros.” (p.89). A linguagem nos conecta e nos atravessa. A escolha de cada palavra é importante, porque ela não traz apenas um significado estrito, como se cadeira sempre significasse cadeira e não outra coisa ou sentimento a depender do contexto e emoções envolvidos.
Dessa forma, o texto busca extrair percepções e emoções, criar imagens, converter um lugar em um cenário, e o livro em relações internas à leitura e externas ao mundo do leitor.
Por fim, sobre o trabalho do texto nesta jornada estética, está a possibilidade de dar novas dimensões às personagens, para que a linguagem ajude na sua interpretação, e criar ressonâncias no interior do texto. Essa ressonância vai além do personagem, pois diz respeito a conexão dos elementos narrativos dentro da história. Vamos supor um exemplo, que não se encontra no livro: Se nas primeiras páginas o narrador diz que seria importante o personagem levar um casaco, mas ele o deixa em casa, cada vento gelado que invadir a narrativa terá um eco na ação do esquecimento. E todo abrigo que ele encontrar nas páginas seguintes relaciona-se ao esquecimento, mas também, possivelmente, a outros pontos da narrativa.
“Como no caso das imagens construídas progressivamente, o significado simbólico de um elemento é, então, definido em termos de sua interdependência com o resto. Ou seja, outras partes do texto lhe dão esse valor quando iluminadas por contraste ou complementaridade. Além disso, portanto, para este nível de ‘textura’ e ‘profundidade’, podemos dizer que a obra ‘funciona como um relógio’ onde todas as peças são necessárias.” (p.100).
Como este capítulo é dividido em duas seções, cada uma é finalizada com uma lista de possíveis problemas que podemos encontrar ao avaliar cada item.
Problemas da linguagem (p.103):
– Pode ser que a ilustração devore o texto, no sentido de que o texto não traga nenhuma sensação ou emoção interessante. Então, para que lê-lo?;
– Pode ser que a linguagem de uma história seja pobre e tenha uma leitura unívoca, para “facilitar a leitura”;
– Pode ser que a história exponha conflitos e conselhos como um tratado didático que não guarde a sutileza da literatura;
– Pode ser que a narrativa se baseie em diálogos e o narrador conte o que vê, mas, isso não garante uma simplicidade como estilo;
– Pode ser que se utilize muito do recurso das imagens e símbolos e se sature o leitor;
– Pode ser que o texto pretenda ser poético com muitas coisas belas, mas acabe por se tornar superficial (“a Disneylândia da literatura”);
– Pode ser que o texto pretenda ser simbólico porque é incompreensível, mas é o autor que deve torná-lo coerente e possível, e não o leitor;
– Pode ser que a narrativa seja reduzida a tentar explicar símbolos e imagens que não se possa traduzir. É preciso deixar que ressoem em cada leitor.
No capítulo 1, primeira chave, foram trabalhadas as imagens segundo sua relação com a narrativa, nessa quarta chave, traça-se uma análise sobre os componentes plásticos da imagem, que são avaliados “para conseguir uma impressão estética do leitor” (p.104).
Os componentes da imagem, segundo Teresa Duran, incluem:
* Superfície ou formato: suporte físico da imagem, que, no caso dos livros, em geral são de superfície plana e formato retangular, mas há outros formatos intencionais (como a coleção de livros diferentes, da editora Rocco, escrito por Caulos: há “O redondo”, de formato circular, “O comprido”, de formato retangular na horizontal, “O quadrado”, de formato quadrado, “O estreito”, de formato retangular na vertical).
* Relevo ou textura: “é a propriedade material de qualquer superfície”, papel mate, brilhoso, com textura, textura tátil ou visual, etc.;
* Traço ou linha: marca visível que uma ferramenta deixa ao unir um ponto a outro; Colomer prefere o termo traço para diferenciar da linha geométrica, a força expressiva do traço, do gesto, a dialogar com a imagem e a narrativa;
* Forma: “conjunto de linhas e superfícies que determinam o contorno e dão a aparência externa a uma coisa. As formas podem estar definidas por linhas de contorno ou por contraste de cor.” (p.105)
* Contraste e tonalidade: quantidade de luz que há em uma cor, graduada em uma escala que vai do claro ao escuro. Construímos as imagens a partir dos contrastes de tonalidades. Os tons dão uma ideia de volume, distância e profundidade; (p.106)
* Cor: “É uma propriedade física da realidade iluminada” (p.106). A teoria das cores estabelece hierarquias (primárias a terciárias), e relações de acordo com sua posição no círculo cromático (complementares e análogas). “a percepção das cores tem um componente emocional e simbólico relacionado às maneiras pelas quais elas são percebidas socialmente; portanto, a sensibilidade para perceber as cores pode ser educada” (p.106).
* Composição: “resultado final da ação de conformar uma imagem e explica a tensão entre os elementos envolvidos (formas, linhas, cores, tons)” (p.160). Pode ser simétrica, assimétrica, estática, dinâmica, e o ritmo (repetições de formas, linhas e cores) podem criar uma estrutura apreciável.
* Espaço e volume: trabalhados na dimensão plana por recursos cromáticos e de tons. Espaço pelo distanciamento em planos ou uso de perspectiva; sensação de volume por degradação tonal, contraste tonal (claro-escuro) ou por oposição entre cores quentes e frias.
Assim como o texto narrativo pode fazer uso da tradição literária, as imagens também, a relacionar-se com a história da arte, a história da pintura, a publicidade, as histórias em quadrinhos e ao desenho. Pode-se explorar as referências do ilustrador e o trabalho por estilos.
É importante também selecionar a técnica e as ferramentas que atendam ao tipo de efeito comprovado na tradição de uso. Por exemplo, ao usar cores suaves em aquarela para dar um tom de delicadeza às imagens. Mas, recordemos a primeira chave: é preciso que haja harmonia no conjunto, deve-se criar as imagens em consonância com todo o resto do livro. Você usaria cores aquareladas para trabalhar uma imagem de impactante ação? Há que se tomar decisões quanto ao uso dos elementos que compõem a imagem, a pensar na lista acima. Além disso, é possível trabalhar jogos de luz, sombra, cores, perspectiva, e criar ressonâncias entre as imagens (semelhante ao eco textual que abordamos na primeira seção).
Por fim, o capítulo 4 traz um “Guia de possíveis aspectos que se pode avaliar nas imagens nos livros ilustrados” (p.116).
- A ilustração é parte da história e como se relaciona ao texto?
- Que técnica se escolheu, ela é adequada ao livro?
- Que estilos artísticos usou de referência, é adequado?
- Que tamanho, formato, fundo, tipo de letra, etc. se escolheu, é apropriado ao tema, tom e legibilidade do livro?
- Que há de especial nos elementos compositivos, como colaboram com o significado do livro?
- Possui novidades entre as outras obras do autor ou a respeito dos livros infantis em geral?
- Que tipo de resposta propicia ao leitor? Empatia afetiva, desafio intelectual, aquisição de conhecimentos, desfrute estético, abertura de novas formas experimentais. (p.116-177)
Para acessar a próxima chave clique aqui.
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