Caderno de Anotações, p. 071-072, 23.12.2011.
Desfez-se a distinção entre dormir e acordar. Foi um sono e um sonhar de intensa luminosidade. Nada adiantou. Já não mostram-se motivos para fechar as portas da sacada e puxar as cortinas, pois não há lá fora. O mundo termina naquelas paredes. Constroem-se assim, lembranças num contínuo presencial. Dois pratos (invenções culinárias), duas taças de vinho, a mesma taça, a gota que cai, a taça que enche, prédio sobre prédio, corpo sobre corpo. Palavras riscadas por mãos que não são as minhas, mas são as minhas, durante o cochilo que faz a vez do ar-condicionado. Do sofá assiste-se a um filme construído no recorte: dentes em lábios vermelhos. Trans-passagem e amarrações corporais, dores de convulsão e intensidade. Pensamentos verbalizados escapantes. Da janela vem a luz matutina e faz três horas que os olhos estão abertos-fechados-abertos-fechados. Bem de perto, um olho fechado, outro aberto. Assim tudo é mantido em foco e no foco (percepção/consciência, intuição/inteligência) são tomadas as decisões. Decisões seguras, sem a mais vaga sombra do erro. Nesses acertamentos re-significam-se os limites sempre que as vontades são possíveis. Nós temos uma porta envidraçada na consciência. Como poderíamos não enxergar exatamente o que (quem) desejamos ter ao nosso lado? Num deslocamento curto, perdendo o sol que se põe e ganhando a única árvore branca da orla. Antes de acordar para o sonho, a paz construía-se com lutas sucessivas e na constante ameaça da perda. Dormir para a vida significa o abraço das certezas e o concordar dos instintos. Nesses dias percebemos, a dança não depende da música e a música traz a entonação da leitura, cantar. Muitas coisas nunca vistas, agora re-guardadas, e como resolvemos Conhecer a Verdade…