
Coletivo Monográfico (Fabiana Pedroni, Joani Caroline, Rodrigo Hipólito), Engenharia Naval em Papel (ENeP), 2013. Parte interna do folder.
Texto presente no folder da exposição “Engenharia Naval em Papel“, Coletivo Monográfico, 2013, Museu do Colono, Santa Leopoldina.
Eles estavam ancorados no cais, à espera de nós. Assim que os avistamos, o possuímos como referência a outras produções. Eram barquinhos de papel colorido, dobrados sobre a janela e outros cantos, cheios de poesia. Desfazer suas dobras não implica destruição, mas o erguimento de um mundo. A leitura desta poesia ganha corpo em Engenharia Naval em Papel e traz para a cidade de Santa Leopoldina as embarcações de Porto de Cachoeiro. Barcos em pilhas, barcos que afundam, outros que voam. No despejo de barcos e leituras de barcos-poema compreendemos a similitude com o despejo de memórias, daquele que dobra o papel e da cidade em que este navega.
A âncora é içada. Em suas dobras, do deque à vela, os barquinhos ganham a possibilidade de se tornarem reais através de atos simples e corriqueiros. Dar sentidos ao fazer, reduzir, empilhar e presentear barquinhos é trazer para o mundo um modo próprio de habitá-lo, transfigurado em produção de arte. Empilhados e erguidos no mundo, fazem este mundo existir para as coisas e para nós, seres que pensamos todo o resto.
A mostra assinala atitudes despretensiosas que ganham sentido e valor a partir de seu reconhecimento. Quando o objeto passa a ter um dono, tomado como presente. Nas águas do rio Santa Maria, nas poesias marítimas que chegam à baía de Vitória, os barquinhos de papel desvelam o mundo e reafirmam nossa existência dentre as letras da poesia.
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Desdobramento de 2020. Quando nos deparamos com as dobras antes feitas.
Texto de Fabiana Pedroni
Ação em eterno curso para um gerúndio justificado. Os barquinhos continuam empilhando sentidos. Dobrados em 2013, ainda ganham significado toda vez em que me encontro com uma dobra. Dobro os lençóis recolhidos logo cedo do varal, dobro os papéis cheios de anotações do dia anterior, dobro e redobro um leque improvisado que alivia o calor, dobras que sopram vento e criam outras dobras nos tecidos. Tudo é barquinho, tudo é cor.
Vou escrever um poema e deixar na rua quando novamente eu for, para quem sabe poder encontrar-me com um novo mundo com dor menor. Cada dobra e desdobra revela uma marca no papel, uma memória saturada de vontades e desejos de navegador. O que você deseja enquanto dobra e desdobra? O que você deseja trazer nas marcas que inflige ao papel? Eu quero deixar um cheiro, um chame-o de gostoso de dia de sol e vento gelado. É assim que quero começar e terminar os dias, enquanto meus barquinhos passam invisíveis por olhos tiranos. Que eles carreguem um cheiro para cada um que resiste e se dobra em poesia.
Quero empilhar barquinhos de luz para substituir a vela que apagamos.

Sem título. Coletivo Monográfico. Fotografia. Fotografia de micro-barquinhos sob a luz do sol da manhã. 2013.
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